Visita presidencial deve alavancar cooperação técnica e científica no agro; entre as exportações, o milho tem maior potencial para avanço
Fonte: www.cnnbrasil.com.br
A missão da delegação brasileira na China tem potencial para alavancar ainda mais a relação entre o agronegócio do Brasil e o país asiático — disse o presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara, deputado Tião Medeiros (PP-PR), em entrevista à CNN.
“A China é estratégica como parceira, seja na compra de produtos brasileiros, mas também como fornecedora de insumos, equipamentos e tecnologias. Então é uma parceria que precisa ser alimentada. Vejo com muito bons olhos essa missão”, afirmou o parlamentar.
O país asiático é há quase 10 anos o principal destino das exportações do agronegócio brasileiro. Em 2022, teve participação de 31,9% no valor das vendas ao mercado externo – que totalizou US$ 50,79 bilhões.
Diretora de relações internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), Sueme Mori afirmou em entrevista à CNN que há “uma avenida” para avanço do comércio bilateral entre o agro brasileiro e a China, mas — assim como o parlamentar — disse acreditar que essa parceria pode atingir novos níveis.
Parte da delegação brasileira viajou à China, Sueme Mori destaca a possibilidade de avanço da cooperação técnica e científica e o alinhamento para defesa de temas de interesse mútuo em plataformas de diálogo internacional como janelas de oportunidade abertas pela missão.
“A China é o principal parceiro do agro brasileiro, e a viagem tem potencial para mudar o patamar da relação com o país, porque é uma deferência um chefe de Estado, como um presidente da República, ir a outro país, como é o caso de Lula”, aponta.
“Do ponto de vista prático, [com a missão] você acelera as negociações. Se você tem uma pauta imensa que negocia há anos, quando você tem uma missão de alto nível, você acelera isso, porque há expectativa de anúncios, de acordos, aberturas de mercados, projetos conjuntos”, completa.
A comitiva do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) — que manteve a data original da ida à China, antes do diagnóstico de pneumonia de Lula — voltou ao Brasil no último dia 29 de março. Em evento com autoridades governamentais e empresariais dos dois países, o ministro Carlos Fávaro comemorou a “relação afetuosa e profícua” sino-brasileira e apresentou um balanço da viagem.
Um dos resultados da missão do Mapa, segundo Fávaro, ocorreu logo no primeiro dia da agenda em Pequim: o levantamento sobre o embargo à carne bovina brasileira, que durou 29 dias. A paralisação ocorreu em fevereiro, quando um caso isolado e atípico de “vaca louca” foi confirmado em um animal no Pará.
Outro destaque foi a habilitação de quatro novas plantas frigoríferas e a retomada de duas outras, que estavam com atividades suspensas. “Temos hoje mais de 50 plantas cadastradas para serem avaliadas pelo governo chinês. As oportunidades estão postas na mesa e tenho certeza de que teremos mais produtos comercializados com a China”, afirmou, se referindo a avanços em negociações de algodão, milho, uva fresca, noz pecã, sorgo e gergelim.
A comitiva ainda recebeu uma carta da Administração Geral de Alfândegas da China (GACC), reconhecendo a qualidade, a segurança e a credibilidade do sistema de defesa brasileiro. “Para nós, foi um motivo de grande orgulho e fortalecimento da nossa parceria”, disse o ministro.
A expectativa, agora, é que Lula assine pelo menos quatro acordos aguardados há tempos pelo agronegócio, incluindo uma certificação digital para diminuir a burocracia a exportadores brasileiros e um acordo que permite a operação direta entre real e o yuan chinês, excluindo o dólar da equação.
“Tratativas importantes que há muitos anos a gente sonhava devem se concretizar com a presença do presidente Lula na China”, disse Fávaro.
Produtos mais exportados vão à China, mas há espaço para avanço
Se considerados os dez produtos mais exportados pelo agro brasileiro em 2022, a China foi o principal destino para seis deles: soja em grãos, carne bovina in natura, carne de frango in natura, celulose, açúcar de cana em bruto e algodão.
O deputado Tião Medeiros aponta que “a demanda imensa e crescente de alimentos” da China faz do Brasil um “parceiro estratégico”. “Somos um grande fornecedor, que pode suprir essa demanda. Então o Brasil é um parceiro estratégico do ponto de vista da geopolítica.”
No topo da lista de exportações do Brasil, a soja representou 46% de todas as vendas internacionais brasileiras em 2022. A carne bovina in natura, terceira no ranking, carrega 11,8% do total — o que demonstra a importância da retomada da venda do produto para a China, um dos objetivos da viagem.
O crescimento das vendas de soja do Brasil para a China se mostra um reflexo da expansão do papel do país asiático para as exportações brasileiras. Se hoje o produto representa quase metade das exportações do agronegócio, em 2012 era cerca de 17,4%.
Segundo a diretora da CNA, há ainda espaço para avanço na negociação de outros produtos. Entre eles, destaca o milho, que é atualmente o segundo mais importante para as exportações brasileiras, com 12,1% do valor total.
“Há uma grande expectativa sobre o milho. Nós começamos a exportar milho para a China no final do ano passado. E quem tá no setor fala até que há uma expectativa de que o milho seja a próxima soja. Essa abertura do mercado chinês para o milho vai continuar ampliando a importância do mercado para o Brasil”, afirma.
O presidente da comissão de agricultura reitera o potencial do milho para o futuro das exportações brasileiras. “O milho tem muito potencial porque tem, assim como a soja, múltiplas utilidades. Ele pode servir de ração animal, mas também consegue servir como fornecedor estratégico para etanol, combustível a partir do milho”, explica.
Parceria entre Brasil e China se estreitou na última década
O Brasil viu a China se tornar mais relevante para suas exportações especialmente na última década. Em 2012, o país asiático tinha participação de 18,8% para as operações, ficando atrás da União Europeia (UE).
A partir de 2013, o valor de exportações para a China ultrapassou o negociado com a UE — assim, o país asiático passou ao topo da lista, de onde não saiu até o momento. Em 2018, o valor de exportações para a China chegou a ser 35% do total registrado pelo Brasil.
Sueme Mori diz que o avanço da abertura comercial do país asiático é o principal fator que explica esse estreitamento de relações. “A abertura da China, essa é a grande questão. A China se abrindo como mercado para o mundo fez toda a diferença”, aponta.
A diretora ainda indica que o ganho de importância do setor agropecuário para a economia do Brasil tem relação íntima com a aproximação entre os países.
“A tendência do gráfico de exportações brasileiras para a China tem a mesma configuração do gráfico das exportações totais brasileiras. Então, a gente crescer como cresceu nos últimos anos, uma das principais explicações é o aumento das exportações chinesa de produtos brasileiros”, explica.
Caminhos para estreitamento de laços
Tanto a diretora da CNA quanto o deputado veem a cooperação tecnológica e científica como um dos caminhos para avanço da relação entre o agronegócio brasileiro e o país asiático.
“A China fala muito do aumento da produção interna baseada no aumento da produtividade via pesquisa tecnológica, investimento em pesquisa. E o caminhar do Brasil também vai nesse sentido. Então eu acho que o intercâmbio, a cooperação em pesquisa nessa área agropecuária pode ser muito benéfica”, afirma Sueme Mori.
“A viagem tem esse objetivo de estreitar parcerias, mas sobretudo de abrir novos mercados. Mas é também uma parceria importante na parte de tecnologia. A China é um parque tecnológico muito avançado, e o Brasil não acompanha nessa velocidade. Por isso esse intercâmbio, essa troca, é muito importante”, aponta o deputado.
Sueme Mori ainda destaca que outro das possibilidades que a viagem acarreta é o alinhamento para a chamada “policy advocacy”.
“É a defesa de temas de interesse mútuo em plataformas de diálogo internacional. Imagina sentar em uma mesa com a China para falar de medidas protecionistas, mudanças climáticas, segurança alimentar. Com o tamanho dos dois países, podemos usar isso mais. Podemos ampliar essa relação”, completa.
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