O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reúne, nesta sexta-feira (20/1), com os comandantes das Forças Armadas brasileiras. O encontro está marcado para as 10h, no Palácio do Planalto, e também deve contar com a presença do ministro da Defesa, José Múcio.
Tanto os chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica quanto Lula têm interesse em distensionar a relação entre as partes e mudar a pauta que têm marcado o cenário político brasileiro: os atos golpistas de 8 de janeiro, quando bolsonaristas radicais invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília.
Outro auxiliar do presidente defendeu que o fato de a reunião ocorrer no Palácio do Planalto, um dos alvos dos terroristas, também demonstra a boa vontade de Lula em virar a página, deixando a crise para trás para começar a governar.
Um integrante do Exército concorda que é preciso seguir em frente. “As Forças Armadas foram alçadas por Bolsonaro a um patamar que não é delas. Uma pequena parcela da sociedade sempre achou que as Forças Armadas tem um poder que não é delas, como por exemplo de usurpar o poder, retirando de lá quem foi eleito pelo povo. Tal pensamento foi potencializado pelo ex-presidente”, ponderou o militar.
De acordo com o membro da caserna, as Forças Armadas devem pedir a Lula para manter o parque bélico nacional, por intermédio das Indústrias Nacionais de Defesa e, posteriormente, comprar materiais de nações amigas, sempre com transferência de tecnologia.
Além disso, segundo o ministro da Casa Civil, Rui Costa, ainda é esperado que o presidente Lula receba, durante o encontro desta sexta, uma proposta de “modernização das Forças Armadas”.
“A ideia é discutir com a Defesa e as Forças Armadas para modernizá-las. Queremos modernizar o investimento nas Forças com formação de mão de obra, aumentar o investimento em Defesa, e queremos que esse investimento esteja alinhado com as políticas do governo. O presidente Lula quer receber uma proposta deles neste conceito”, disse o ministro nesta semana.
Críticas e afago após atos
Na semana passada, o atual mandatário do país disse estar “convencido” de que as portas do Palácio do Planalto foram abertas para a entrada dos terroristas que destruíram os prédios da Presidência da República, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF).
Durante café com jornalistas, Lula disse que “muita gente” da Polícia Militar do Distrito Federal e das Forças Armadas foi “conivente” para que bolsonaristas entrassem na sede do Executivo federal.
“Teve muita gente conivente. É importante dizer que teve muita gente da Polícia Militar conivente, teve muita gente das Forças Armadas, aqui dentro, conivente. Eu estou convencido de que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para que gente entrasse, porque não tem porta quebrada na porta de entrada”, afirmou na ocasião.
No dia seguinte ao terrorismo, aliados do governo passaram a defender a demissão do ministro da Defesa, José Múcio, por ter minimizado os acampamentos promovidos por bolsonaristas em frente a quartéis generais.
O próprio presidente criticou Múcio, mas saiu em defesa do ministro durante café com jornalistas. “Quem coloca e tira ministro é o presidente da República. José Múcio foi eu quem trouxe para cá e vai continuar no cargo porque eu confio nele”, disse Lula.
“Se eu tivesse que tirar cada ministro na hora que ele comete um erro, vai ser a maior rotatividade de mão de obra da história do Brasil. Porque todos nós cometemos erros. Na minha cabeça, o José Múcio é o meu ministro”, prosseguiu.
Num primeiro sinal de aproximação após a declaração de Lula, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, foi até o Ministério da Defesa e se reuniu, na tarde de terça-feira (17/1), com Múcio e os comandantes das Forças – general Júlio Cesar de Arruda (Exército), almirante Marcos Sampaio Olsen (Marinha) e tenente-brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno (Aeronáutica).
Governo dispensa militares do GSI
A reunião entre Lula e os comandantes das Forças também ocorre após o Palácio do Planalto dispensar mais de 60 militares do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República. Eles são de patentes mais baixas, como soldados, cabos e sargentos, e começaram a ser dispensados nesta semana, após os atos golpistas.
A maioria dos integrantes do GSI são militares das Forças Armadas, que devem voltar para suas funções. Na Presidência, eles ficam responsáveis pelo esquema de segurança de autoridades e pelo resguardo dos palácios.
Na terça, Rui Costa disse que as trocas em cargos de livre indicação do governo são naturais em razão da falta de sintonia com a gestão anterior.
“Essas trocas, é natural que ocorram, porque o governo que saiu tem pouca ou nenhuma sintonia com o governo que entrou. O pensamento em todas as áreas é muito diferente e, portanto, nós não poderíamos conviver com os mesmos assessores”, afirmou.
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