Viagem do presidente brasileiro à Argentina marca retorno do país à Comunidade de Países Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Petista tem reunião bilateral com Alberto Fernández, hoje, e deve debater sobre uma moeda comum
Fonte: correiobraziliense.com.br
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) iniciou a sua primeira viagem internacional no atual mandato, com passagens pela Argentina e pelo Uruguai. Ao desembarcar em Buenos Aires, no Aeroparque Jorge Newbery, Lula e a primeira-dama, Rosangela Lula da Silva, a Janja, foram recepcionados pelo chanceler argentino Santiago Cafiero.
Antes de embarcar, Lula entregou o comando do país para o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), que ficará no cargo até quarta-feira (25) e postou uma foto dos dois nas redes sociais.
Em um aceno à política externa regional e marcando o retorno do Brasil para a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), Lula participará da cúpula do bloco criado em 2010, em Buenos Aires, amanhã. O país deixou a Celac durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que evitou se aproximar dos países vizinhos.
Integram a comitiva presidencial os ministros Paulo Pimenta (chefe da Secretaria de Comunicação Social), Márcio Macêdo (chefe da Secretaria Geral), Mauro Vieira (Relações Exteriores), Fernando Haddad (Fazenda), Nísia Trindade (Saúde) e Luciana Santos (Ciência e Tecnologia).
Os governos brasileiro e argentino querem criar uma moeda comum sul-americana para transações comerciais e financeiras. Lula e Fernández assinaram um artigo publicado, ontem, no jornal argentino Perfil com o anúncio da medida, à véspera do primeiro encontro bilateral entre presidentes dos dois países em mais de três anos previsto para hoje.
“Pretendemos quebrar as barreiras em nossas trocas, simplificar e modernizar as regras e incentivar o uso de moedas locais. Também decidimos avançar nas discussões sobre uma moeda comum sul-americana, que possa ser usada tanto para fluxos financeiros quanto comerciais, reduzindo custos operacionais e nossa vulnerabilidade externa”, escreveram Lula e Fernandez.
O objetivo inicial não é fazer com que os países deixem de usar suas próprias moedas — o real e o peso argentino —, mas sim formatar uma moeda comum para as transações comerciais entre eles, sem depender do dólar. A ideia difere, porém, da criação de uma moeda única, como o euro — divisa oficial dos países-membros da União Europeia.
Parâmetros
Apesar de ser um diário pouco conhecido no Brasil, o artigo publicado no Perfil repercutiu nos grandes jornais argentinos, como o Clarín. O britânico Financial Times também deu espaço para a criação da moeda comum. Segundo a reportagem, o movimento pode eventualmente criar a segunda maior moeda de um bloco econômico do mundo, já que deve ser estendida para outros países da região.
O ministro da Economia argentino, Sergio Massa, afirmou ao jornal inglês que serão estudados os parâmetros necessários, mas que é o primeiro passo de um longo caminho a trilhar. O Brasil sugere que o nome dado à nova moeda seja “sur”. Segundo o Clarín, a ideia de que Argentina e Brasil tenham uma moeda em comum para trocas comerciais transcende as rachaduras políticas entre os países.
No ano passado, o ministro Fernando Haddad e o secretário-executivo da Fazenda, Gabriel Galípolo, escreveram um artigo propondo o uso de uma moeda comum no comércio sul-americano para impulsionar a integração na região. A moeda seria utilizada para fluxos comerciais e financeiros entre os mercados da região e teria um câmbio flutuante entre as moedas dos países — que poderiam adotá-la ou não domesticamente.
Haddad chegou a se reunir com o embaixador da Argentina, Daniel Scioli, no início do mês para discutir o tema e se irritou quando foi questionado a respeito da criação de uma moeda única na região. “Não existe proposta de moeda única do Mercosul, vai se informar primeiro”, disse. “Trabalharemos sobre a moeda comum, mas isso não significa que cada país terá a mesma moeda. Significa uma unidade para a integração e aumento do intercâmbio comercial no bloco regional”, disse o embaixador, na ocasião.
Ceticismo
A criação de uma moeda comum é vista com ceticismo por especialistas, porque a unificação entre países com realidades econômicas muito diferentes é complicada. Apesar de a adoção de uma moeda única possa resultar em uma maior eficiência, aumentando o potencial de crescimento dos mercado envolvidos, colocar uma medida dessas seria muito difícil dadas as discrepâncias econômicas entre os países.
Pelo cronograma previsto pelo Planalto, Lula tem uma agenda cheia de compromissos em Buenos Aires, iniciando pela manhã uma oferenda de flores na Plaza San Martín e, na sequência, participará de uma reunião bilateral com Fernández, na Casa Rosada. Também está previsto um encontro com empresários.
Amanhã, Lula participa da 7ª Cúpula da Celac, quando deve se encontrar com os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e de Cuba, Miguel Díaz-Canel.
AGENDA Após deixar Buenos Aires, Lula segue para o Uruguai, onde deve se reunir com o presidente Luis Lacalle Pou na quarta-feira, 25, em Montevidéu, antes de retornar a Brasília.
Até lá, Alckmin segue como chefe do Executivo. Hoje, o primeiro compromisso dele será uma reunião com o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans. A pedido de Lula, ele despachará do gabinete presidencial, no Palácio do Planalto. (Com informações da Agência Estado)
OUTRAS VIAGENS
Em fevereiro, Lula deve ir para os Estados Unidos.
Em março, o presidente deve viajar para a China.
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